Seminário Internacional Economia Criativa, Cultura e Negócios (6)

O segundo dia do seminário prosseguiu com o painel sobre cultura e grandes eventos, assunto que desperta crescente interesse no Brasil com a aproximação da Copa do Mundo da FIFA.

Avril Joffe (E) e Jordi Pardo (D),
tendo ao centro a curadora Ana Carla Fonseca.
Jordi Pardo, Coordenador do Laboratório de Cultura e Turismo de Barcelona Media (site disponivel também em português) demonstrou como a cidade de Barcelona "reinventou-se" para as Olimpidas de 1992, evento que é considerado ainda hoje como um divisor de águas na história desta grande cidade espanhola.

Entre as obras mais importantes destacam-se as melhorias na orla marítima, que se tornaram local de lazer por excelência dos cidadãos, que até então deixavam a cidade em busca das praias próximas. Além de melhorar a qualidade de vida de seus habitantes, após a Olimpíada Barcelona tornou-se um dos principais destinos turísticos no continente. Abrigando 5 sítios reconhecidos pela UNESCO como patrimônio mundial, recebe anualmente cerca de 7 milhões de turistas, dos quais 70% do exterior. Mais de 10% dos visitantes vem à cidade participar de congressos e outros eventos, colocando a cidade em segundo lugar no mundo neste tipo de turismo. A vida cultural é intensa, bastando dizer que em 2011 vendeu-se mais ingressos para o teatro (2,8 milhões) do que para o futebol.

Segundo Pardo, a situação atual é resultado de o evento ter sido colocado a serviço da cidade (e não o contrário). Embora o município tenha criado uma empresa com a finalidade específica de coordenar a remodelação da cidade, a liderança pública e a participação da comunidade no planejamento dos investimentos não foram obstáculos para que 90% desses investimentos tenham vindo do setor privado.
Barcelona foi apontada recentemente em pesquisa como a melhor cidade européia para se trabalhar. Um dos motivos com certeza diz respeito ao modo como as pessoas deslocam-se para o trabalho: 32% a pé ou de bicicleta e apenas 25% de automóvel.

A socióloga sul-africana Avril Joffe brindou-nos com um precioso depoimento sobre as vicissitudes de um país emergente às voltas com a missão a um tempo honrosa e delicadíssima de sediar uma copa do mundo sob as insstruções da FIFA. Segundo ela, o planejamento tardio das atividades culturais foi um dos pontos fracos do evento, com o agravante de que parte dos poucos recursos públicos para a cultura foram drenados emergencialmente para o esporte, na última hora. A participação de especialistas em arte e cultura na organização das atividades, bem como da sociedade em geral, foi mínima.

Uma constatação até certo ponto óbvia, ratificada através de pesquisas realizadas pela FIFA, é que o público que habitualmente viaja para estes eventos não tem seu foco de interesse nas artes e sim no esporte. Como complemento ao futebol, interessam-lhe os serviços ao turista: transporte, alimentação, etc. Contudo, observou-se que durante a Copa o cidadão local, tomado pela sensação de estar no centro das atenções do mundo, saía às ruas para celebrar e ocupar os espaços públicos, constituindo um público até então inédito para os artistas locais. Por isso, uma das iniciativas mais simples e baratas foi bem sucedida: a de oferecer mapas e menus da programação cultural que já ocorriam regularmente nas cidades, facilitando sua difusão, em vez de concentrar todo o público em megaespetáculos.

Texto e Foto: Álvaro Santi / Observatório da Cultura de Porto Alegre

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