Domenico de Masi no Brasil

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Na última segunda-feira foi ao ar, pela TV Cultura de São Paulo, uma entrevista ao vivo com o italiano Domenico de Masi, no programa Roda Viva. Professor universitário, graduado em Direito, De Masi especializou-se em Sociologia do Trabalho, notabilizando-se a partir de meados da década de 90, pelos livros Desenvolvimento sem
trabalho (1994), O ócio criativo (1995) e O futuro do trabalho (1999) - todos traduzidos para o português.
Em sua obra, De Masi procura desbancar o trabalho como supremo valor ético da sociedade capitalista, chamando a atenção sobre o seu oposto - o ócio. Atenção ainda insuficiente, segundo ele, numa sociedade em que a quantidade de horas livres aumenta proporcionalmente à produtividade e à expectativa de vida. Estimativas afirmam que um jovem que hoje tem 20 anos dedicará apenas um sétimo do seu tempo de vida futuro a trabalhar. Em compensação, terá mais de 200 mil horas de tempo ocioso pela frente. Sob esta perspectiva, cresce a importância da cultura, que pode conferir sentido a essa existência, até então consagrada à produção de mercadorias. A redução do tempo e uma melhor organização do trabalho, numa sociedade menos competitiva, segundo De Masi, permitiriam evitar a contradição que se pode encontrar numa mesma família em que o pai trabalha 10 horas diárias e o filho está desempregado. O excesso de trabalho está ligado a um modelo de desenvolvimento que estimula o consumo desenfreado, tendo como premissas a criação incessante de novas "necessidades", pela publicidade; e a fantasia de que os recursos naturais são ilimitados.

O mais recente livro de De Masi lançado no Brasil.
Mesmo diante desse quadro, De Masi (ao responder uma pergunta sobre ética) revela-se um otimista, preferindo viver num mundo que, segundo ele, "pode não ser o melhor mundo possível, mas é o melhor mundo entre todos os que já existiram". Seu otimismo - não confundir com ingenuidade - decorre do estudo da História, que permite constatar como a humanidade vem encontrando soluções para seus problemas, através da criatividade. A revolução do pensamento iluminista, segundo ele, foi protagonizada por não mais de 15 jovens pensadores espalhados por uma Europa dominada pelo absolutismo e pela Igreja de Roma, os quais vislumbraram  a necessidade de profundas mudanças na maneira de se pensar o homem e a sociedade. As mudanças, contudo, só ocorreriam de fato mais tarde, após a Revolução Francesa, porém ao preço de 3.000 aristocratas decapitados. Noutro momento, seu otimismo expressa-se ao considerar o crescimento da população mundial, que nos acostumamos a encarar com preocupação cada vez maior. Para ele, tendemos a enxergar esses 6 bilhões de seres humanos como uma quantidade de bocas impossível de alimentar, esquecendo que são também 6 bilhões de cérebros capazes de pensar e talvez resolver problemas até então insolúveis.

Sobre a Itália, refere-se ao governo Berlusconi ("um tosco") como uma "ditadura sustentada não pelas armas, mas pela mídia e pelo dinheiro", lamentando que tanto poder não tenha sido usado em prol do país, mas apenas para tratá-lo como "seu próprio quarto de dormir". Em relação ao Brasil, declarou-se esperançoso de que o país possa oferecer ao mundo um novo modelo de desenvolvimento, em vez de insistir na importação os modelos europeus e norte-americanos, ora em crise.

Outra entrevista de De Masi, a Marília Arantes, pode ser lida na íntegra no site Idéia Sustentável.

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