Diálogos para entender o valor da cultura

Grayson Perry. "This pot will reduce crime by 29%" (2007)
Foto: Marc Wathieu
Esta semana acontece, em Porto Alegre, mais uma edição dos oportunos e estimulantes Diálogos em Economia Criativa, realização da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Ministério da Cultura, através do Observatório de Economia Criativa (OBEC).

Na manhã de hoje, assistimos à palestra do historiador britânico Geoffrey Crossick, professor na Escola de Estudos Avançados da Universidade de Londres. Ele coordenou o projeto de pesquisa "Valor Cultural" (Cultural Value Project). Patrocinado pelo Conselho de Pesquisa em Artes e Humanidades (AHRC), o projeto procurou responder às questões "por que a cultura e as artes importam?" e "como capturar os seus efeitos na sociedade e nos indivíduos", identificando os diferentes valores implicados nas artes e na cultura e desenvolvendo metodologias adequadas para medi-los.

A palestra de Crossick destacou os principais pontos do relatório final desse projeto, intitulado Understanding the value of arts and culture (Entendendo o valor da arte e da cultura, 204 p. em inglês). Os resultados da pesquisa, que durou três anos, sugerem que os valores mais importantes da arte e da cultura encontram-se nos processos, e não nos bens culturais propriamente ditos, o que torna ainda mais complexa uma análise de seus efeitos. Tais análises devem se perguntar, previamente:
Crossick em conferência no Salão de Festas da UFRGS

  • Quem quer saber e por quê?
Estudos sobre o valor social da cultura e das artes podem se desenvolver com pelo menos três objetivos distintos: pesquisa científica, para conhecimento; avaliação de projetos ou políticas culturais, para informação de seus patrocinadores públicos ou privados; ou para auto-reflexão, por parte dos próprios agentes culturais (artistas, instituições, etc.)
  • Que fenômenos vai investigar?
Devido à complexidade e compartimentação da vida moderna, há o risco crescente de se tomar a parte pelo todo. Assim, estudos sobre a economia da cultura deixam de fora parte considerável da realidade, que sobrevive à margem do mercado formal; pesquisas sobre profissionais das artes não levam em consideração as práticas amadoras; e assim por diante. É importante não perder de vista o contexto.
  • Estamos buscando no lugar certo?
Clique na imagem para ler o relatório
Diversos aspectos formam o valor (ou valores) da arte e da cultura, exigindo avaliações por múltiplos critérios, que possam dar conta dos seus efeitos na economia, na participação social (engajamento), na saúde, na educação ou no bem estar dos cidadãos, das cidades e países.
  • Quais os métodos utilizados?
Não existe o método, um único padrão-ouro que dê conta dos benefícios da cultura, por mais refinado que seja. Métodos quantitativos pode seduzir pela facilidade (e baixo custo) na obtenção dos dados, e pela aparente objetividade, no entanto sua aplicação aos fenômenos artísticos e culturais deve ser cuidadosamente contextualizada. É preciso atentar, ainda, para o fator temporal, pois há efeitos que só podem ser evidenciados em médio e longo prazo.

A conferência do Prof. Crossick está disponível em vídeo aqui. (com as de outros palestrantes)

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